O deputado federal Luis Miranda (DEM-DF) disse em entrevista para no site O Antagonista que o irmão dele e servidor do Ministério da Saúde Luis Ricardo Miranda, que chegou a ser exonerado do ministério, está sofrendo muita pressão da “alta cúpula do governo” para viabilizar a compra e importação da Covaxin, mesmo com os indícios de irregularidades no acordo.
“Meu irmão está recebendo uma puta pressão de coronéis, de gente da cúpula do governo, para fazer um pagamento e importar uma vacina que não tem Anvisa, para fazer um pagamento que estava em descompasso com o contrato e pior: o nome da empresa que vai receber o dinheiro não é a que fez o contrato com o Ministério da Saúde, nem a intermediária. É uma loucura. Fora as quantidades: o contrato previa 4 milhões na primeira entrega e só tem 300 mil.”
O deputado Luis Miranda e Bolsonaro |
O deputado diz que alertou Bolsonaro em janeiro, antes do contrato ser assinado, e que o presidente “precisaria agir” O contrato acabou sendo assinado e Luis Miranda levou o irmão, o servidor do Ministério da Saúde, até Bolsonaro e lhe mostrou documentos com indícios de irregularidades.
O deputado acrescentou que levou o caso para o presidente, porque “confiava” em Bolsonaro e entendia que “a bandeira dele é o combate à corrupção”. “Cabe agora verificar se o presidente tocou para frente a denúncia que foi feita, porque convencido de que tinha algo errado, ele estava.”
“Ele disse para mim com todas as letras: ‘Deputado, é grave’. Ele falou até para o meu irmão: ‘Obrigado por trazer isso para mim, porque isso aqui é grave, gravíssimo’. Vou entrar em contato agora com o DG [diretor-geral] da Polícia Federal, encaminhar a denúncia para ele.”, disse o deputado.
“Ele comunicaria a Polícia Federal imediatamente, porque era caso de polícia, não era nem caso de investigação, de mandar para Ministério da Justiça nem PGR. Falou claramente que ia mandar para a Polícia Federal. Ele falou isso com todas as letras do alfabeto. E aí meu irmão está sendo achacado por ter sido honesto. Que país maluco é esse? Por ter salvo o país de entrar em um esquema onde mais dinheiro da saúde iria para o ralo. Aí eu entrei no jogo: ‘Pera lá, ele não prevaricou não, ele entregou todas as informações para o presidente da República’. E eu entreguei para o presidente da República, porque ele tem a mesma plataforma que a minha, que é o combate à corrupção. Confiei nele, ele é o chefe do Executivo. Cabe agora verificar se o presidente tocou para frente a denúncia que foi feita, porque convencido de que tinha algo errado, ele estava.”
A vacina Covaxin é produzida pela farmacêutica indiana Bharat Biotech, que é representada no Brasil pela empresa Precisa Medicamentos. A Precisa tem como diretor Francisco Maximiano, um dos sócios da empresa Global Gestão em Saúde, alvo de investigação por não ter entregue medicamentos de alto custo comprados pelo Ministério da Saúde. Uma das irregularidades na compra da vacina é o fato de o governo ter assinado contrato em tempo recorde e pagado 1000% a mais do que o valor ofertado pela fabricante. O governo iria pagar R$80,70 por dose da Covaxin, enquanto a Pfizer saiu por 56,30 a dose no primeiro contrato, a da Janssen foi adquirida pelo mesmo valor, com a vantagem de ser em dose única. No segundo contrato da Pfizer as doses vão custar R$ 66 cada. O Ministério da Saúde queria importar 20 milhões de doses, mas a Anvisa autorizou apenas 4 milhões, o suficiente para aplicar em 2 milhões de pessoas, 1% da população.
As negociações com a Precisa só avançaram após uma emenda do deputado Ricardo Barros (PP), líder do governo Bolsonaro na Câmara, apresentada durante a tramitação da medida provisória que facilitou a compra de vacinas. Barros já é acusado de improbidade administrativa, ele é acusado de favorecimento à empresa Global Gestão em Saúde, que tem como um dos sócios Francisco Maximiano, diretor da Precisa Medicamentos.